Já perceberam como as vezes é difícil conversar com um professor (a)? Inúmeras vezes uma simples conversa sobre qualquer assunto se transforma em uma palestra, daquelas bem pesadas que remontam a meados do sécula XX. Basta uma palavra e pronto: senta que la vem história!
Posso citar alguns exemplos. Neste blog há um post intitulado "Meus meninos e seus pés no chão". Quando o escrevi, pensei apenas em abrir diálogo sobre um fato corriqueiro na vida das crianças - brincar descalço - e a dureza que muitas vezes a submetemos nas aulas de Educação Física. Dias depois recebi um e-mail muito carinhoso de uma professora que me dava dicas sobre como convencer os alunos a participarem da aula calçados. Uma verdadeira aula.
Outra vez estava em um bar com amigos. Falando sobre futebol, surgiu uma pergunta qualquer, daquelas típicas de conversa de bar. Um dos amigos tomou a palavra e resenhou, resenhou, resenhou tanto que ele se pegou em uma das esquinas da fala professoral e disse: "Nossa, parece que estou na escola falando com meus alunos".
Esse tipo de comportamento é comum em professores de várias áreas de conhecimento. É preciso tomar cuidado, senão, levar a namorada (o) para jantar pode se transformar em uma aula sobre a história do vidro no egito antigo. Uma partida de futebol pode se transformar em uma aula de cálculo sobre a diferença de metragem entre o campo do Manchester da Inglaterra e o campinho do sítio e as implicações para a prática do futebol arte.
Eu poderia elencar uma série de motivos para essa mania. Mas vou pegar só um. Falta de diálogo. Sempre que presencio essas aulas fora de hora percebo que a pessoa se fecha para o mundo. Direciona seu olhar para o chão, aumenta o tom de voz e começa... Essa postura que, até certo ponto, pode ser considerada normal pois a formação do professor históricamente o fez dono da verdade, denuncia uma falha. hoje é sabido que não somos donos da verdade.
Esta, é uma construção coletiva e não uma imposição. Embora muitas vezes construções coletivas dos outros nos são impostas, mas isso é tema para outro post.
A construção do diálogo é dos temas mais difíceis que abordo em minhas aulas. Dialogar é se doar ao outro e não simplesmente falar, falar, falar... Entender o outro, codificar sua mensagem e depois responde-la. Se parássemos para pensar nessas coisas talvez evitariamos um pouco mais essa mania de professor.