sábado, 28 de março de 2009

Temas e Conteúdos para Educação Física Escolar

Outro dia li no Blog do João Freire um post sobre a sistematização dos temas e conteúdos da Educação Física ao longo dos anos pertinentes ao processo educacional formal. O tema é interessante, porém, altamente "periculoso" - como diz um conhecido.
Penso que primeiro é preciso diferenciar tema de conteúdo, um primeiro olhar pode revelar certa semelhança entre um termo e outro, mas na verdade, existem diferenças determinantes entre um e outro.
Coll (1998) argumenta que os temas são os elos de ligação entre o aluno e o conteúdo que será aprendido na aula, nessa perspectiva, o futebol por exemplo seria um tema. Dentro deste tema poderíamos trabalhar o conteúdo chute, passe ou cooperação. Assim, pode-se dizer que o eixo temático calcado nos jogos, nas modalidades esportivas, nas danças e nas ginásticas; abrem infinitas possibilidades temáticas para a Educação Física Escolar.
Vamos imaginar uma aula na qual o professor queira trabalhar saltos. Quantas manifestações da cultura de movimento utilizam o salto? De cabeça vou citar algumas: o atletismo, o volei, o basquete, a capoeira, as ginásticas rítmica, artística e geral, o break, jogos com corda, amarelinha e por ai vai. Isso quer dizer que se quisessemos pensar a aula pelos conteúdos, seu desenvolvimento seria possível, mas complicado. Outra possibilidade é pensar nas aulas a partir dos temas, vamos lá.
Um tema como o break, dança engendrada à cultura Hip Hop, exigirá do professor conhecimentos sobre os contextos nos quais o Hip Hop é apontado por jovens e adultos como possibilidade real para desenvolvimento do SER humano. Pensando especificamente no Break, a ideia seria abordar conteúdos como o ritmo, a movimentação do corpo no espaço, o equilíbrio, as mudanças de direção, o enfrentamento e alguns outros. Me parece mais adequado pensar nas aulas partindo dos temas e perceber quais conteúdos esses temas suscitam durante seu desenvolvimento. Passemos ao próximo desafio.
Como organizar esses temas ao longo dos anos? Quais conteúdos devemos oferecer para os nossos alunos? Essa organização deve ser igual em todo um estado? Em toda uma cidade?
Tentarei responder parte desses questionamentos no próximo post.

E a secretária caiu

Quando as coisas não dão certo em um time de futebol o técnico é demitido. Na gíria corrente, jornalistas e consumidores dessa modalidade esportiva dizem que o treinador caiu. Na política acontece o mesmo.
A "vítima" da vez foi Maria Helena Guimarães, agora, ex secretária da educação em São Paulo. Após inúmeras divergências com os professores da rede, erros grosseiros nos materiais entregues aos alunos e alguns conflitos com o governados José Serra, ela foi afastada da secretaria.
Em entrevista a Folha de S. Paulo, de hoje, 28/03, ela alega motivos pessoais para o seu desligamento, para dizer a verdade eu não acredito, foram erros demais. O pior deles foi comprometer a imagem do governo.
Para o seu lugar, Paulo Renato, economista, foi ministro no governo Fernando Henrique. Ele vai dar jeito? Acho que não. Dizer que ele é mais um "psdebista" a assumir o poder é inútil, está difícil acreditar em qualquer político, mas eu acredito menos neles, nos democratas e etc.
Vamos dar tempo ao tempo. O novo secretário começou mal, o site oficial da secretaria ainda não divulgou a mudança. Será porque?

quinta-feira, 19 de março de 2009

Rouba bandeira para a autonomia




A Educação Física no espaço escolar não deve se preocupar com a busca do talento esportivo ou com a formação de novos alunos para academias de ginástica. O papel da Educação Física escolar coaduna-se aos objetivos da escola, não é possível imaginar um componente curricular que tenha total independência do espaço no qual está alocado, seria como se o objetivo do componente história fosse lapidar possíveis historiadores, o da biologia futuros biologos e por ai vai.


Instituições escolares adotam como objetivo principal a formação de cidadãos, a biologia, a história, a Educação Física e todos os outros componentes curriculares devem ser desenvolvidos em torno deste objetivo. Não quero neste post aprofundar os aspectos relacionados a formação do cidadão, isso não seria possível. Quero deixar claro que, para mim, a formação do cidadão passa pela construção de autonomias, sempre na medida do possível, pois formar para autonomia plena é algo que será possível apenas quando a maioria das pessoas tiverem condições de perceber o que é liberdade. Sem liberdade não há possiblidade de formar alguém autônomo.


É possível formar pessoas que queiram ser livres, que tenham essa curiosidade mesmo que ingenuamente, um dia essa curiosidade será epistemológica...


Nas aulas de Educação Física temos condições de formar pessoas para algumas autonomias, uma delas, a do diálogo. Nas últimas duas semanas construi com meus alunos o rouba bandeira, jogo popular e tradicional, mas nem todos o conhecem. A riqueza começa ai, aqueles que conhecem apresentam o jogo as pessoas que não sabem jogar. Algumas regras mudam de uma turma para outra, mas a essência do jogo continua, roubar a bandeira. Após construir e clarificar as regras do jogo, nos dedicamos a construção de sistemas e táticas, objetivando facilitar a vitória de uma equipe e dificultar a vitória da outra, como isso foi possível? pelo diálogo.


Propus aos alunos que conversassem sobre o jogo, suas características e o que eles precisariam fazer para alcançar os objetivos que mencionei anteriormente. Depois que disse isso me afastei, as equipes se reuniram e passaram a diálogar, isso não é fácil, em vários momentos não houve diálogo, houve discussão, uns queriam impingir suas ideias nos outros, ai eu intervinha. E foi. Na maioria das turmas deu certo, em algumas não.


Não quero que sempre de certo, quero apenas que os alunos tenham condições de refletir sobre aquilo que vivenciamos nas aulas. Isso pode ser agora ou daqui a dez anos, afinal, eu não educo para a minha aula, educo para a vida.




Na foto, uma das turmas dialogando.

Sobre Postagens

É complicado alinhavar as tarefas de professor, pesquisador, filho e blogueiro. Vez ou outra sento em frente ao computador e não consigo publicar aquilo que penso sobre as coisas que tenho contato no meu dia a dia (sem hífen). Prometo que vou tentar postar mensagens ao menos três vezes na semana, duas de segunda a sexta, e outra, no final de semana.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Ronaldo Fenômeno e a Educação Física Escolar


Parece estranho abordar um tema ligado ao futebol de alto rendimento em um Blog que trata das coisas da Educação Física Escolar, mas não é. O feito realizado por Ronaldo, ontem, em Presidente Prudente - SP, ganhou eco em todos os veiculos de comunicação. Desde o jornal Metro News, que é distribuído gratuitamente nas estações do metrô de São Paulo até o Jornal Nacional que realizou uma entrevista ao vido com o "fenômeno". E a Educação Física, onde entra neste diálogo?

O esporte, tradicionalmente, é apontado como principal tema das aulas de Educação Física no contexto escolar. Não concordo muito com isso e sempre tento criar outras possibilidades, aponto o esporte como mais um dos eixos temáticos e, geralmente, trato as questões do esporte nas minhas aulas no terceiro bimestre letivo - agosto e setembro. Os alunos não gostam. Pedem para jogar bola, dizem que o outro professor de Educação Física os deixavam livres em algumas aulas para jogarem bola.

Eu acredito que o esporte não é o principal tema da Educação Física Escolar, em contrapartida, não posso negar que este permanece no imaginário social de todos nós, por isso, vejo uma possibilidade pedagógica para os professores responsáveis por este componente curricular. Imagine, quantos conteúdos podemos tratar com os alunos partindo deste tema: Ronaldo. Conhecimentos sobre fisiologia, cinesiologia, futebol, filosofia e sociologia, podem compor este rol que não deve ser ignorado. Muitas vezes, pensamos que as coisas do mundo não devem influenciar nossas aulas, digo exatamente o contrário, afinal, somos parte dele. Não concordo, porém, com o trato acritico dos acontecimentos, tratar de Ronaldo em uma aula, significa pensar na condição humana do século XXI, qual condição? a do mito.
Foto: Cesar Greco /FOTOARENA / Parceiro / Agência O Globo

sexta-feira, 6 de março de 2009

Meus meninos e seus pés no chão



O início do ano letivo traz consigo uma série de novidades. Ano passado não dei muita importância a vestimenta dos alunos nas minhas aulas, quase sempre um estava de calça jeans, sapato ou bota.
Neste ano decidi agir de outro modo, afinal, se eles não souberem das roupas mais ou menos indicadas para a prática de atividade física e os motivos da indicação na escola, onde eles saberão? Pensando nisso, abri diálogo em todas as turmas que ministro aula, a pergunta era: com que roupa eu vou para a aula de Educação Física?
A resposta mais utilizada foi ótima: "essa aqui professor" apontando para a roupa que estavam utilizando. Alguns se arriscaram a mudar, disseram que existem roupas adequadas, mas não sabiam quais eram. Quando olhei para a resposta que eles fizeram a minha pergunta, a roupa deles, encontrei ampla variedade: macacões, vestidos, sandalhas, chinelos, calças jeans e até uma bota - nesse calor...
Conversamos sobre as vestimentas, fomos a quadra e vivenciamos algumas brincadeiras, nos interessava perguntar para os alunos como eles se sentiam correndo com aquelas roupas: era bom? será que com outra roupa ou calçado seria melhor? Chegamos a conclusão de que as roupas que tradicionalmente não são indicadas para a prática de atividade física não seriam adequadas para os dias da aula de Educação Física.
Na próxima aula todos estavam lá, alguns se esqueceram do combinado, mas, a maioria não. Quando fomos para a quadra, algo me espantou. Antes da formação da roda de conversa que inicia a aula, todos os alunos - excessão feita a dois ou três - estavam sentados tirando seus tênis. E ai? O que fazer? Dialogar! Ficou muito claro que todos eles estão acostumados a brincar descalços, ministro aulas numa região na qual existem ruas de terra, árvores, pedras e asfalto. Quem sou eu para priva-los de suas características? Depois de pensar em tudo isso em vinte segundos - quem é professor sabe do que estou falando - abri o diálogo com eles.
Eles me disseram que sempre brincaram assim, disse a eles que o risco de haver um machucado era maior, mas se eles quisessem eu não os obrigaria a colocar os tênis novamente, adivinhe, ninguém o colocou de volta. A foto do post, mostra os tênis dos meus meninos, meninos que brincam com seus pés no chão.

domingo, 1 de março de 2009

Pensamentos sobre a Educação... Física

Com o início do ano letivo alguns pensamentos invadem minha mente. Eles são recorrentes, estiveram por aqui ano passado e depois foram embora. Em 2007, quando iniciei minha carreira docente ocorreu a mesma coisa.
Sempre me pergunto: o que a Educação Física tem a oferecer? O que eu tenho a oferecer? Tenho condições de mudar o mundo, ou o mundo é esse que está ai e não depende de mim para ser mudado? As perguntas persistem, as respostam mudam. Hoje sei que a Educação Física tem muito a oferecer, muito sobre o movimento e muito além do movimento, talvez, a maior riqueza da Educação Física resida no fato de poder se aproximar dos alunos parados e em movimento. Nenhuma outra área de conhecimento conta com essa possibilidade, imagine alunos correndo, um atrás do outro, de repente alguém os chama e pede: agora todos devem dizer uma palavra com g para pegar alguém. Imagine isso na cabeça de uma criança.
Esses pequenos pontos podem mudar o mundo. Me lembro do ano passado das minhas turmas de quarta série, quantas e quantas vezes disse a eles que não gritaria na aula e não utilizaria apito. No fim do ano conseguiamos construir coisas maravilhosas, coisas que eles passaram a utilizar em suas vidas, em seus mundos...

Tenho muito mais para escrever, tanto, que nem sei como.